CONDUTA

A conduta do praticante de Karatê

Os rituais em todos os Dojo propõem aos praticantes uma série de atitudes e gestos que facilitam as relações entre eles deixando claro o desejo comum de obedecer a uma ordem válida para toda a comunidade e para cada um. A intenção do praticante é sempre a de estimular o progresso na arte de todas as pessoas sem perder o desenvolvimento individual.

A prática de karate está repleta de exercícios marciais, combativos, porém com um total espírito de conciliação, buscando a vitória pela harmonia, pela paz, procurando esquecer as atitudes egoístas e pensando sempre no grupo e como sendo parte dele. O karateca treina com seu companheiro com todo respeito e consideração, pois o considera como parte de si mesmo e sem o qual não há treinamento. Daí ser fundamental tratar o companheiro com cortesia e agradecimento por ele dar a possibilidade de você treinar e de aprender com ele. Ao professor, se deve o respeito e o agradecimento pela transmissão dos conhecimentos e pela dedicação e esforço em ensinar segredos que foram por muitos séculos restritos a uma minoria privilegiada.

Respeitar e se fazer respeitar é uma das regras mais importantes durante os treinamentos. Conciliar e nunca confrontar é o princípio básico. Esquecer-se da palavra “eu” e substituí- la pela palavra “nós” é a essência do ensinamento. Outro ponto fundamental é que se treina karate para a vida. Portanto, fica claro ao praticante e ao grupo que o fundamental não é vencer, não é derrubar, não é ser o mais forte, mas descobrir o potencial individual, o centro das ações e se, ele não for o centro, colocar-se em uma de suas órbitas, de acordo com suas reais condições.

O Dojo

O lugar onde se pratica Artes Marciais é denominado “Dojo”, esta palavra foi emprestada do Zen Budismo, significando “Lugar de Iluminação” (onde os monges praticavam a meditação, a concentração, a respiração, os exercícios físicos e outros mais). A palavra dojo significa literalmente:

DO – Caminho, estrada ou trilha (sentido espiritual); JO – Lugar (espaço físico).

Algumas pessoas referem-se à academia de karate como um dojo, porém as duas coisas são diferentes. A palavra dojo somente se refere ao espaço físico onde ocorre o treino de karate, enquanto academia se refere ao local onde se pratica karate. Portanto, o dojo é o lugar onde se pratica o “caminho”.

Alguns podem perguntar sobre qual o caminho que se pratica em um dojo, a resposta vem, mais uma vez, do Budismo (mais precisamente do Zen); O homem deve despertar em meio às questões de todos os dias, vivendo intensamente no presente e concedendo atenção integral às coisas do cotidiano, para, desta maneira, retornar à naturalidade de sua natureza, conforme ditado Zen:

“Antes de estudar Zen, as montanhas são montanhas e os rios são rios. Enquanto estuda Zen, as montanhas deixam de ser montanhas, os rios deixam de ser rios. Uma vez alcançada a iluminação, as montanhas voltam a ser montanhas e os rios voltam a ser rios”.

Isto quer dizer que um pintor alcança a felicidade pintando, um médico realizando cirurgias e um karateca praticando Karatê.

O cumprimento ( ser cortês )

Uma demonstração tradicional de cortesia é o cumprimento, isto tanto é verdade que ele é realizado no início e no final da aula de frente para o Shomen (forma de agradecimento àqueles que desenvolveram a arte). Ao cumprimentar, você deverá olhar para baixo e não na face do seu oponente – olhar na face de alguém durante um cumprimento é sinal de falta de confiança. O cumprimento pode ser feito de duas maneiras distintas:

RITSU REI – cumprimento em pé; ZAREI – cumprimento sentado (SEIZA).

A maneira correta de se cumprimentar é, partindo-se da posição natural (SHIZENTAI), curvar o corpo e segurá-la por meio segundo e retornar a posição ereta (ritsu rei). O cumprimento deve acontecer nas situações a seguir:

1- Quando entramos ou saímos do dojo;
2-Quando o professor entra ou sai do dojo;
3- No início e final de um combate;
4- No início e final da aula;
5- No início e final de um kata;
6- No início e final de um exercício com um companheiro.

O Zarei é realizado a partir da posição Seiza (o praticante senta-se sobre seus calcanhares e quando o fizer deverá abaixar sua perna esquerda e em seguida a direita, colocando o dedão do pé esquerdo sobre o do direito, ao levantar-se ocorre à inversão), inclinando-se o corpo e as mãos descem suavemente das coxas para o chão, formando um triângulo onde a testa tocará.

O significado de " Oss ! "

Nos países ocidentais é comum escutarmos adeptos do Karatê expressarem " Oss  ", quando se trata de fazer uma reverência ao chegar e sair do dojo, usa-se também para saudar o sensei, amigo de treino ou outro praticante de Karatê.

Há duas teorias conhecidas sobre o significado do termo " Oss ". De acordo com uma vertente é uma expressão fonética formada por dois caracteres; o primeiro caracter "osu" significa literalmente "pressionar", e determina a pronúncia de todo o termo e o segundo caracter "shinobu" significa literalmente "suportar". Entretanto, há outra vertente que acredita ser o termo " Oss " uma abreviação da expressão "Onegaishimassu" ( pedir permissão ), sendo composta pela primeira e última sílaba da palavra

A espressão OSS foi criada na Escola Naval Japonesa, e é usada universalmente para expressões do dia-a-dia como "sim", "por favor", "obrigado", "entendi", "desculpe-me", para cumprimentar alguém, etc., bem como no mundo do Karatê para quase qualquer situação onde uma resposta seja requerida.

Um bom praticante de Karatê é aquele que cultiva o "espírito de Oss". Não deve ser dito de forma relaxada, usando apenas a garganta, mas, como tudo no Karatê, deve ser pronunciado usando o "hara" (tanden). Pronunciado durante o cumprimento, "Oss" expressa respeito, simpatia e confiança no colega. Também diz ao Sensei que as intruções foram compreendidas, e que o estudante irá fazer o melhor para seguí-las.

Kiai

O kiai ou “grito de força” – KI: força e AI: grito – é uma energia que nasce a partir do baixo ventre (saika tanden – aproximadamente cinco centímetros abaixo do umbigo). Todos têm um grito de força, principalmente os grandes felinos. Geralmente, esses animais paralisam suas presas com o seu kiai antes de atacá-las. O kiai pode ser aplicado em três momentos.

1-No início de uma atividade;
2-Durante a realização desta tarefa;
3-Final de um trabalho;

Os gritos de guerra servem para aumentar, acelerar e expor a força de ação do homem. Portanto, podem ser aplicados contra incêndios, vendavais e as fortes ondas marítimas para criar coragem e energia para enfrentá-los. Na luta individual, para colocar o adversário em movimento, o grito antecipa seus golpes e, em seguida, pode se aplicar chutes e socos. Não é necessário utilizar o grito simultaneamente com seus golpes. No decorrer da luta, ele servirá para incentivar e colocar numa situação vantajosa, sendo forte e profundo. Tomar precaução ao gritar, pois se o grito for usado fora de ritmo ou de tempo ou em ocasiões impróprias poderá surgir como contra-efeito, tornando-se prejudicial.